segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O JN noticía hoje a eminente perda de independência do sistema de Justiça, resultante das nomeações políticas para as chefias intermédias

Procuradores temem chefias sem concurso

Bases do Ministério Público iniciam um movimentocontra sistema de chefias "de confiança" e sem concurso

Os procuradores do Ministério Público, através do respectivo sindicato, vão iniciar uma vaga de fundo com vista à declaração de inconstitucionalidade do seu novo estatuto. Alegam perda de independência e autonomia.

Em causa está principalmente o facto de, dentro de dois anos - com a plena entrada em vigor do novo mapa judiciário e de um novo sistema nacional de 38 comarcas -, haver novos cargos de chefia intermédia para os quais não está prevista a realização de concurso de apreciação de mérito. Temem, por isso, que os critérios determinantes passem a ser a "confiança", o "conhecimento pessoal" e não o mérito.

Para cada comarca, quem nomeará os designados procuradores-coordenadores é o Conselho Superior do MP. Mas fá-lo-á a partir de de uma lista de três nomes fornecida pelos procuradores-gerais distritais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora. "Defendemos que esses três nomes devem sair de um concurso anterior, que seja escrito e sindicável. Evitar que a escolha seja por conhecimento pessoal, porque isso significa que haverá magistrados da 1.ª Divisão e da 2.ª Divisão", explica, ao JN, o procurador José Pedro Baranita.

O presidente da Direcção Distrital do Porto do Sindicato dos Magistrados do MP (SMMP) lembra que os procuradores-coordenadores de comarca terão poderes para transferir os subordinados de tribunal, sem ter de respeitar o "princípio da estabilidade". Isto é, poderão mudá-los para localidades a dezenas ou centenas de quilómetros de distância, alegando conveniência de serviço. E fala em "sério risco" de os procuradores passarem a olhar mais ao que agrada às chefias - mesmo em matéria de decisões processuais - do que a critérios de legalidade e independência. "Se houver uma intervenção hierárquica informal, não escrita, nos processos, quem fica a perder em última instância é a sociedade. Perde-se transparência", argumenta José Baranita.

Para iniciar um movimento contra o novo estatuto, o SMMP promove, depois de amanhã, uma conferência no Palácio da Justiça do Porto para apresentação de um parecer que sustenta a inconstitucionalidade do estatuto. Visa também promover uma petição ao procurador-geral da República e ao Parlamento para ser pedida a apreciação do Tribunal Constitucional.

"Qualquer cidadão pode assinar a petição. Deve ser uma luta de cidadania", explica. O dirigente sindical espera que a regulamentação da lei a elaborar pelo Conselho Superior do MP minimize, pelo menos, os problemas previstos. Mas, perante eventuais futuros casos concretos de ordens de hierarquia e transferências, é admitida a hipótese de recurso às "últimas instâncias". Isto é, também aos tribunais.


Jornal de Notícias, 9 de Fevereiro de 2009, NUNO MIGUEL MAIA

Para ler a notícia original clique aqui.


O MMS é frontalmente contra a politização da Justiça, esta medida que preocupa os procuradores deve-nos preocupar a todos.

A independência da Justiça está em causa.

Queremos concursos públicos com base na distinção do mérito, chega de clientelismo!

Sem Justiça não há democracia e isso é inaceitável.

Assinar a petição e fazer ouvir a nossa voz contra este atentado à Justiça independente num Estado de Direito é obrigação de todos os que querem um Portugal Livre.


Sérgio Deusdado

MMS-Bragança


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