quinta-feira, 25 de junho de 2009

A cura e a recidiva

Depois de ver a entrevista de hoje com a candidata a PM pelo PSD, que nos evidenciou os falhanços da actual governação, e passou uma borracha nos seus próprios falhanços como ex-Ministra das Finanças e como ex-Ministra da Educação, fico com a sensação de que, seja qual for o PS (com ou sem D) que ganhar as próximas eleições legislativas, Portugal já perdeu. Perder-se-á uma nova legislatura para se provar, uma vez mais, que Portugal funciona pior que os outros países da Europa sejam quais forem as políticas que a cúpula governativa tenta implementar.

Quando os portugueses dizem dos partidos “…são todos iguais…”, querem dizer que as políticas duns e doutros não alteram significativamente o desenvolvimento de Portugal. Tenho para mim que, se atirássemos a moeda ao ar para escolher, a cada quatro anos, entre PS (com ou sem D), os resultados do benchmarking do desenvolvimento actual de Portugal não seriam muito diferentes. Perante os alternantes, dum lado temos um aparelho enorme à espera dos jobs e da acessibilidade do dinheiro público e do outro, temos um enorme aparelho a acotovelar-se pelas nomeações e a posicionar-se onde desaguará o erário público. Se os partidos são gémeos, as clientelas são clones. Quando Portugal se cura de um a recidiva é garantida com o outro.

As pessoas que integram o MMS perceberam, há muito, que o problema principal de Portugal não está relacionado com a cúpula do partido ou da coligação que o governa. O principal problema de Portugal está no ineficiente modelo/sistema de governação com que pretendemos ser mais eficientes. Concorre para agravar esse problema o facto dos partidos do sistema não terem qualquer intenção credível para modernizar o modelo/sistema de governação, nem de abdicar da nefasta partidocracia com que foram corrompendo a democracia.

Quando aparece um novo partido a defender o empowerment da sociedade, a profissionalização da gestão pública e a descompor as clientelas partidárias, através de medidas como:

- o fim das nomeações na Administração Pública, substituindo-as por concursos públicos onde o mérito da sociedade possa, por sistema, potenciar o desenvolvimento do país e separar higienicamente os binómios Estado/serviços de Partidos/serviçais;
- a reorganização da estrutura de governo local, reduzindo drasticamente as Instituições políticas locais (actuais Assembleias das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia) para que os executivos camarários se concentrem menos nas lutas políticas e mais em fomentar a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos;
- grupos parlamentares resultantes de eleição nominal e a erradicação da disciplina partidária nas votações da AR;


é de esperar que o sistema intente a bipolarização e passe a imagem de que o problema de Portugal é decidir se Sócrates continua ou se Manuela re-regressa. Os maiores partidos sabem bem que, pior do que perder para o gémeo, é dar azo a que uma nova proposta política se situe no plano da alternativa credível e factível. As clientelas sobrevivem uma ou duas legislaturas à míngua – tal já se provou - mas, uma depende da outra para que a alternância perpétua se mantenha. Cabe aos portugueses que querem, de facto, mudar Portugal votar fora deste sistema, abrindo caminho para uma revolução inteligente e democrática.


O voto mais útil é o que decorre da decisão informada, o voto menos útil é o que se decide pensando exclusivamente na sua utilidade.


Abraço,

Sérgio Deusdado

MMS-Bragança

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