Esta notícia do novo jornal i merecia que fosse processado... Não o jornalista mas quem lhe deu os argumentos para ele escrever o que escreveu, baseando-se apenas em factos da desgovernação.
"Guardar a carne podre no congelador não resolve problema nenhum: a podridão mantém-se, embora o cheiro desapareça. Durante oito meses, o ministro das Finanças evitou o confronto com a realidade.
Apresentou um orçamento tirado das páginas das "Mil e Uma Noites": o produto interno bruto (PIB) ia crescer 0,6%, afinal vai cair 3,4%; a procura externa ia crescer 1,5%, afinal cairá para os 11,6%.
Teixeira dos Santos não pode dizer que, em Outubro de 2008, não era possível prever a dimensão da crise mundial. Não é verdade. O orçamento foi apresentado aos deputados um mês depois da falência do banco Lehman Brothers e um ano e meio depois de ter rebentado a crise das hipotecas-lixo na América.
O ministro das Finanças pode dizer-nos que os seus cálculos não eram mentira, revelavam apenas amor pelo país: reflectiam a urgência de insuflar as frágeis expectativas dos portugueses.
A justificação é fraca.
Chegados aqui, resta concluir que a credibilidade política do Orçamento do Estado sai ainda mais depauperada. Confirma-se que as empresas e as famílias devem desconfiar do que lhes é apresentado nas previsões anuais do governo. As suas opções de investimento e poupança não podem ser calibradas tendo o orçamento como referência. Num período de especial insegurança, teria sido importante que os números se tivessem aproximado minimamente da realidade. Sobra outro ponto. Se em Outubro do ano passado o governo tivesse assumido as dificuldades, teria feito todo o sentido a criação de um gabinete de acompanhamento especial no Parlamento para fiscalizar (sem burocratizar) as opções tomadas e os investimentos concretizados. Poderes excepcionais para momentos excepcionais. Hoje, ninguém sabe muito bem quanto dinheiro público foi gasto e onde. Pior: ninguém sabe se há ou não estratégia para reduzir a dívida pública que atingiu níveis alarmantes. Em breve, só em juros o país vai gastar quase 65% do que gasta em saúde pública. Isto vai doer.
por André Macedo, Publicado em 16 de Maio de 2009"
Fonte: Jornal i, link do artigo:
http://www.ionline.pt/conteudo/4616-pintar-os-labios-ao-porco